Orientado pela Professora Ester Gutierrez, o pós-graduando em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Pelotas, Anderson Pires Aires, escreveu uma dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo intitulada “A cidade Cemiterial: Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas (1855-1976)“.
“Dedico este trabalho àqueles que são invisíveis aos nossos olhos, mas são presentes por suas vibrações e energias, e que sempre me auxiliaram nos momentos anteriores e durante o desenvolvimento da dissertação”, escreveu Anderson no início da dissertação.

O trabalho, um dos mais completos já elaborados sobre o tema, conta em detalhes a história e simbologia por trás dos túmulos históricos do Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula.
O cemitério possui um valor histórico inestimável, pois diferente da maioria dos cemitérios, que possuem majoritariamente réplicas de esculturas produzidas em massa, as esculturas e obras de arte deste são em sua maioria originais e exclusivas, tendo sido encomendadas pelas famílias da época, contando com nomes desde Alfredo Barsanti até Antônio Caringi. É o mais importante museu a céu aberto de Pelotas, que conta em detalhes sua história para quem sabe interpretar o seu simbolismo, explicado na dissertação.

Segundo expõe Anderson, “As formas de inumar os corpos daqueles que haviam falecido apresentou diversas transformações com o passar dos séculos. Iniciando com covas cobertas de paus e pedras na pré-história, os enterramentos foram realizados em construções monumentais feitas para apenas uma pessoa na Antiguidade. Com o tempo, os mortos foram colocados em cemitérios longe das cidades e retornaram às urbes após suas expansões, além de serem inumados no interior de templos religiosos. Essas mudanças geralmente criavam uma separação entre pessoas de diferentes classes sociais, religiões e culturas.
A partir do século XVIII os mortos passaram a ser vistos como uma ameaça aos vivos e isso resultou na separação entre eles. O distanciamento foi mais severo no século XIX, quando o perigo da propagação de doenças resultou na criação de novas regras para a instalação dos cemitérios municipais longe dos centros urbanos. Foi nesse contexto que surgiu a cidade cemiterial, um local dedicado apenas aos defuntos. Como a necrópole era uma representação da urbe, a pesquisa comparou as estruturas urbanas e arquitetônicas a fim de comprovar que o Cemitério da Santa Casa de Misericórdia simulou a cidade de Pelotas.
Com isso, pôde-se identificar que a disposição de avenidas, travessas, quadras e bairros, além de situações que lembravam a organização político-administrativa da cidade, aproximaram a malha urbana do campo santo à de Pelotas. Além disso, a edificação tumular compreendeu distintas tipologias, linguagens arquitetônicas, detalhes construtivos e representações de cultura e religiosidade. Assim, a cidade cemiterial da Santa Casa de Misericórdia resultou em uma urbe semelhante a Pelotas, aproximando o espaço àquele ocupado pelos vivos”.

A dissertação está disponível para download no site da UFPEL, e pode ser baixada clicando-se aqui.