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Há certa profundidade intelectual que não nos traz “luz” e “afeição”, mas nos emerge na sombra, e aqueles que, por algum motivo, neste caso, buscavam se comunicar, terminam isolados em esgotos obscuros, para muito além dos louros e da estima social. De fato, enquanto todos vivem suas vidas imersos na gregariedade sem fim, aqueles estão submersos e solitários – não que estejam, porém, no lugar errado: é preciso que exista também o mais raro, sim, aquele cuja capacidade seja descer até o poço da sociedade e em direção ao abismo de si… Não é ele precisamente o filósofo?
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Aqueles que pretendem ser a companhia das gerações porvindouras precisam ser solitários em vida: em todo caso, o que significam algumas companhias diante da eternidade do devir?
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A precondição para se dizer verdades em filosofia é não querer ser amado.
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Mais de uma vez observamos através dos séculos comparações entre o filósofo e a criança, e a necessidade, por exemplo, da existência da ingenuidade por parte daquele, a fim de que possa alcançar o que é óbvio, embora não esteja ao alcance de todos. Mas há ainda um outro aspecto não percebido em relação àqueles: os filósofos são felizes como as crianças que, para tanto, não precisam do casamento, mas antes se bastam a si próprias.
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Existe uma certa altitude criativa na qual apenas o gênio pode respirar.
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Apenas o filósofo pode verdadeiramente dizer: “meu cérebro não é a casa de conceitos alheios!”.
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Justamente pela filosofia existir não para agradar, mas, pelo contrário, para suspeitar, desvelar, esmagar, aprofundar, criticar e até insultar, ela não pode ser infantilizada, tal como a maioria das artes e conhecimentos, com exceção de certas áreas científicas – e eis aqui uma de suas vantagens.
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Toda grande filosofia não busca a formação do mero militante ou do aluno universitário que pretende apenas ter um punhado de notas para passar em disciplinas e ao final guardar seu diplominha suado, obtido também por mais um milhão de sonhadores iguais a ele, mas antes a formação do homem total – e precisamente por isso não consegue, efetivamente, ser “popularizada”, pois tão difícil como a existência de um tipo realmente filosófico é a existência do homem total, seja ele um artista, um homem de ação ou do conhecimento.
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O mundo, em seu perene presente, é a um só tempo utópico e distópico: há sempre perspectivas, fatos e mentiras suficientes para corroborar ambos – a utopia de alguns filósofos é a distopia de outros e vice-versa.
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Pensando bem, quão terríveis e monstruosos têm de ser tanto os grandes artistas quanto os eminentes filósofos, para desprezarem tudo em suas voltas com a finalidade de criar uma obra pela qual talvez ninguém sequer se interesse!