1
Por mais diversos que sejam os transtornos psicológicos em geral, há algo que une muitos deles: a incapacidade de autovalorização até o ponto da geração de uma equilibrada plenitude do eu – em outras palavras, uma incompletude egóica.
2
Faz parte de toda sorte de ciclos abusivos, desde aqueles interpessoais até aqueles que se perpetuam através de determinados cultos religiosos e ideologias políticas, não apenas causar mal-estar através de determinados abusos psicológicos, mas igualmente gerar a culpa no indivíduo pelo seu próprio mal-estar, como se um problema imposto exteriormente e muitas vezes imaginativamente fosse antes interno e concreto.
3
E se uma pessoa pudesse agir conscientemente como um narcisista sem possuir o transtorno? Não teria ela certas vantagens sobre os outros, como alguém que tivesse a frieza do psicopata sem sê-lo? E se um dia houverem “treinamentos” nesse sentido, isto é, a emulação de certas “vantagens manipulatórias” de um transtorno? E em parte isto já não foi intentado, ainda que de forma inconsciente, sobretudo por certas doutrinas, filosofias ou mesmo religiões, a exemplo do estoicismo no ocidente ou do hinduísmo no oriente – mais propriamente no Bhagavad-Gita –, ao ensinar o desapego total e frieza emocional, o que, no âmbito psíquico, seria algo típico do transtorno da personalidade antissocial?
4
Ideologias que levam à frente estranhas utopias costumam atuar, ao seu próprio modo, como uma espécie de gaslighting expandido.
5
As definições de amor atuais, tanto as vulgares quanto as de muitos psicólogos, são apenas aquilo que se quer do amor ou o que se espera e imagina idealmente dele segundo influências culturais gerais e tradicionais, não se referindo ao que ele de fato é.
6
O trauma costuma vir acompanhado de episódios nos quais o indivíduo produz certa fixidez em determinado ciclo de pensamentos ou memórias, que, por vezes, pode passar ao olhar, gerando, em alguns momentos, uma certa fixidez no olhar. Fenômeno semelhante pode ser percebido durante processos criativos mais profundos e naqueles que podemos chamar de indivíduos geniais. Assim, é possível que haja alguma ponte entre tais mecanismos cerebrais: assombro e trauma, por instantes, talvez andem lado a lado – o sublime e o trágico…
7
O que se chama de “sacrifício” muitas vezes é apenas uma ambição sem limites travestida de altruísmo, e que, justamente por sua desmesura, costuma levar à autodestruição.
8
Quantas verdades se pode suportar é um critério importante para se definir a hierarquia de forças e capacidades entre os tipos psicológicos.
9
No fundo, buscamos não a “ausência do ego”, mas, pelo contrário, a impassibilidade do ego: isto é, ansiamos pelo seu fortalecimento ao ponto de nada mais poder atingi-lo. – Quem é o herói senão aquele que permanece impassível ante os ataques exteriores? Mas isso só é possível com um ego profuso.
10
Dizer “não seja engolido pelo seu ego” é, na verdade: “amplie teu ego aprendendo a dominá-lo – seja forte e orgulhoso a ponto de não perder-se em si mesmo”.