1
Cada qual acredita estar buscando algo único, e nisso deposita seu sentido próprio – no entanto, por isso mesmo, a busca por algo único não é única.
2
Há um tipo superior de desprezo de si, sem o qual não é possível ao orgulhoso sobreviver: ele se dá por meio do riso e da auto-ironia, e só se faz possível àqueles que conseguem sentir plenamente tanto a parte mais poderosa quanto a mais frágil de seus corpos e existências. Isso se traduz também através daquele que possui grande amor pela vida, e no entanto não hesita em arriscá-la: morrer por uma bufonaria não tira sua a dimensão trágica – o grotesco e o sublime são por ele afirmados.
3
A doença intensifica, quando findada, os tempos de saúde: ela nos faz voltar os olhos para os bens que tínhamos e não sabíamos – para as mais invisíveis alegrias da vida.
4
Em sociedade oscilamos constantemente entre sermos alguma coisa e não sermos nada. Tal dualidade é tanto fonte de mazelas quanto de fortalecimento e autossuperação.
5
A vida dos grandes homens são muitas vezes pautadas por um contínuo desprezo de parte do que fora até então venerado e feito – não somente pelos outros, mas sobretudo por eles mesmos! Do contrário, como poderiam ainda se superar? O próprio ato criador já pressupõe um certo desprezo, uma não-preferência pelo que já foi criado.
6
A virtude dissimula – tanto quanto a dissimulação pode passar-se por virtude.
7
Para cada razão cega para suas paixões, há dezenas de paixões ansiando tê-la como pretexto de si próprias.
8
Costumamos admirar em uma pessoa aquilo que já admiramos ou gostaríamos de admirar em nós mesmos.
9
O empirista e o cético podem dar as mãos: afinal, para se poder observar o máximo possível e de melhor maneira a realidade factual, é preciso, muitas vezes, acreditar o menos possível naquilo que já está estabelecido, de forma dogmática, sobre esta mesma realidade.
10
Para chegarmos até os outros temos, não raras vezes, de nos afastarmos de nós mesmos: o que compensa mais? Tudo vai depender do fato de se teremos combustível e paciência suficientes para a viagem e se o perigo de acidentes será menor do que o de voltarmos a nós próprios sãos e salvos.